sábado, 14 de novembro de 2009

Meu bem

É calmo. De uma serenidade quase assustadora. Em menos de uma década conhecia os extremos de uma relação afetiva e sexual com um oposto. Mas agora, era calmo e quase terno.

A possibilidade de um rompimento iminente era assustadora, mas não provocava desespero. O sentimento bom estava ali e, talvez por isso, assustava ainda mais.

Estava acostumada a espernear e reagir como se o outro fosse posse. Mas agora, simplesmente o que importava era estar perto e quando longe sabê-lo feliz.

A ciência de não saber se voltaria a sentir isso era incômoda, mas não maior do que o conhecimento de que pela primeira vez, em muito tempo, sentia a coisa certa.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

É.... a vida bate

Blackout. Ouço as respirações pesadas atrás das cortinas. Logo o palco estará iluminado, logo será minha vez, e meus joelhos ainda não pararam de se encontrar freneticamente. "Droga, o que eu tô fazendo aqui?" Pera, eu sei. Eu procurei isso. Precisava aprender a lidar com minha timidez. "Um dia desses terei que resolver", sempre justificava aos conhecidos e a mim mesmo, por isso havia procurado a Companhia, por isso estava prestes a participar de minha primeira montagem, isso é se eu não tivesse um chilique antes.Lembro de entrar pela primeira vez no pequeno teatro, ver só o palco iluminado e os alunos sentados em um semicírculo. "Grande, uma turma de adolescentes, não posso ficar aqui", pensei. O professor tinha olhos imensos, achei bonitos, mas muito inquisidores, ele convidou: "Venha para o palco". Depois, foi aquele papo mais ou menos previsível, apresentações, objetivos que nos trouxeram ali. No final da aula eu não tinha conseguido decorar nenhum nome, na minha avaliação preconceituosa, que só queria uma desculpa para me arrancar o mais rápido possível dali, só haviam meninas, todas muito jovens, com umas duas ou três exceções e um homem alto, como um dos meus irmãos, mas que depois de observar melhor percebi que no máximo seria um pouco mais que um adolescente.Alguém me perguntou muito gentilmente se eu havia gostado, fui sincera e disse que idade da turma me intimidava, a pessoa sorriu e disse: "Não, por favor, fica". Não lembro quem disse, mas sempre tive dificuldades para dizer não, então mesmo sem saber porque assenti. No sábado seguinte lá estava eu, os ombros arqueados, o rosto e o colo em brasas de tanta vergonha, mas consegui ficar até o fim. "Vitória", pensei ao fim da aula. Seria esse o sentimento de todos os sábados, cada aula encerrada era um gigante noucauteado, derrubaria meus gigantes um a um.Droga, quando foi que essa sensação de necessidade de superar a timidez virou uma necessidade de fazer parte daquilo? Certo, eu me apego fácil, sabia que gostaria daquelas pessoas, mas era além disso... todos os exercícios, as leituras, as conversas vazias, as pequenas frases cautelosamente estudadas antes de serem pronunciadas para tentar quebrar o gelo.... tudo estava ligado com minhas idéias sobre vida, felicidade, leituras, sonhos e além... não importava o quanto eu estivesse feliz, todo tempo eu sempre sentia que faltava algo, eu nunca soube o que era, até na faculdade considerei que fosse aquele tal vazio "pós-moderno", mas agora, prestes a entrar no palco, tudo estava completo, tudo estava incrivelmente em ordem e era perfeito.Foi assim que vivi minha experiência particular de "sabedoria em comum". A primeira apresentação foi sofrível. A segunda foi muito boa. A terceira e quarta deliciosas. Eu consegui fazer o público rir. Eu, a pessoa que pede desculpas quando esbarra em seres inanimados e morre de medo de falar demais e ser inconveniente. Puta que pariu, tô fudida, estou apaixonada pelo teatro, o que fazer com isso? Não tenho a mínima ideia. Arf!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O meu Chico

Não foi tanto pelos livros, nem pelas K7, embora elas tivessem ajudado, eu simplesmente gostava dele. Talvez fosse voz mansa, que tomava uns agudos quando exitava antes de emitir uma opinião imprecisa. Um trejeito que herdei, não como a cara de 'bolacha Maria', como repetia mamãe, acho que é mais justo dizer que aprendi.
O cheiro da cerveja, o sorriso largo que espremia os olhos tristes sempre estiveram lá, os mesmo que eu já veria refletidos no espelho algumas vezes. Por mais aborrecido ou violento que ficasse, pra mim ele sempre era aquela figura a0 mesmo tempo feliz e triste e eu o achava bonito.
Entre as várias torres de edições bolso de faroeste, que ficavam pilhadas sobre o janelão de madeira da "casa nova", eu folheava as páginas em vão, nada me servia. Me consumia por isso, tinham um cheiro tão bom, e ele os lia tão rápido e eu sabia que não seria 'importante' senão gostasse de ler.
Frustrada eu memorizava uns poemas datilógrafados de Cecília, que achei dentro de uma pasta na estante, e lia muitas vezes as decrições das bandeiras dos Estados brasileiros e seus brasões, simplesmente porque gostava de ouvir minha leitura e as letras pareciam tão redondas, que era justo que fossem lidas muitas vezes.
As fitas sempre chegavam, junto com a bicicleta, mas só o suficiente para que os dedos conciliassem com guidon. Eram coletâneas que um amigo radialista compilava, foi lá que eu ouvi Tom, que amei Nara, Noel, que soube que prefiriria Chico Buarque à qualquer outro, antes de desobrir o rock, de saber de seus olhos azuis e antes que isso fosse importante. Eu ainda teria muitas outras descobertas e muitas K7 para roubar daquele acervo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sobre café e moedas de um centavo

"A cobertura que se forma sobre o café é para conservar a bebida".
A frase estava escrita em letra desenhada a giz na pequena lousa verde, que no colégio eu conhecia como 'O Quadro Negro'".
O lugar de destaque em que o aviso estava na cafeteria roubou minha atenção antes de qualquer coisa. Não era o número do Procon, nem as informações das promoções do dia, nem mesmo uma saudação canastrona de boasvindas. Se estivesse numa galeria até poderia ser um trecho de poema pósmoderno, mas era pouco provável que se tratasse de uma instalação naquela cafeteria desconhecida.
Estava claro, era uma frase de caráter informativo, utilitário, não pude deixar de pensar:
- Que diabos quer dizer isso?
Percorri sôfrego os olhos pelo balcão, avistei a máquina Italiana, olhei para as prateleiras, por cima dos ombros da carrancuda atendente, com seus potes e conteúdos. Tudo em vão. Nenhum sinal de nada que justificasse a placa.
Primeiro, procurei pelos grãos da bebida depositado em algum recipiente com a misteriosa cobertura sobre a qual era necessário informar a toda e qualquer pessoa que detivesse os olhos por um momento no estabelecimento. Sem sucesso, passei a me perguntar se tudo aquilo não se referia aquela espuma que fica sobre o café quando sai da máquina, mas aquilo seria um disparate e o ar pouco amigável da minha interlocutora do balcão me desencorajou a perguntar. Mesmo assim insisti.
- Que frase é essa no quadro?
- É um aviso, senhor.
- Hum. Mas...
- O que o senhor deseja?
O tom impaciente não camuflou o: "Diga o que quer e caia fora".
- Eu... - Ora, me diga o que você faria? Eu queria um café, mas de repente, não eram mais só os bons pretinhos de sempre, eu não poderia tomar aquilo, seja lá o que fosse. Que cobertura era aquela? Por que tinha uma placa? Por que o uniforme da mulher não estava branco? E, Deus, por que o segurança estava parado atrás de mim?
- E então?
- ... Eu queria um pão francês. - Consegui vomitar.
- Com manteiga?
- Não! - Respondi assustado. - Por favor, só-o-pão-francês.
Ela me olhava desconfiada enquanto o segurança andava à paisana. Prontamente ela jogou o pão morto no saquinho de papel e disparou:
- 29 centavos.
- Aqui.
Minha história terminaria aqui, juro, mas a sádica não estava satisfeita com todo sofrimento que me causara.
- O que mais?
- O meu um centavo.
- Não temos um centavo.
- Mas você disse 29 centavos. Eu concordei em pagar 29 centavos, não 30 e nem 31. Quero meu um centavo.
O homem de preto já estava atrás de mim quando decidir elevar o tom de voz.
Ela suspirou enfastiada em jogou desdém cinco centavos sobre o balcão e me deu as costas. Eu não me lembro se foram os impropérios que ela revidou ou a presença pouco amistosa do sujeito tão perto de mim, mas em algum momento, tudo que eu conseguia ver era o o rosto aterrorizado da mulher, enquanto me arrastavam para fora entre gritos distantes: "Eu quero um centavo! É meu direito! Eu quero meu um centavo.... Me soltem! Eu jamais beberia essa coisa que vocês servem ai! O que é aquela placa? O que é..."

Não!

Por favor, não me corte
Há sangue em minhas veias
E apesar de tudo eu tenho um coração
Havia mais pedras no caminho do que eu costumava contar
Não entendo de mentiras
Só sei dos sonhos deixados na caixa de papelão
Por favor, não me corte
Eu ainda preciso desta carne que me reveste os ossos
E apesar de tudo eu ainda sinto dor
O cheiro do cabelo queimado não me incomoda mais
E só preciso ter onde recostar meus próprios pesadelos
De todos os medos, de todos as fadigas
Nada me cansa mais do que esquecer o que eu sou

Sobre o encanto

Não tenho versos nem flores
Tão pouco esperanças do dia que passou
Apenas um coração combalido
Inquieto e desejoso de tantas coisas do mundo
De todas, mais a tua presença
Serena
Fantasmagórica
Como é linda a tua mente
Se existir uma alma ela será parecida
São doces estes olhos que guardam pensamentos tão turvos e incompletos

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pisei Num Despacho?


Normalmente não posto textos não autorais, mas como hoje estou um pouquinho triste, nada como um bom samba para para me deixar feliz, ainda mais com essa letrinha tão bem humorada de uma cadência única, que só poderia ser de Geraldo Pereira.


Desde o dia em que eu passei

Numa esquina e pisei num despacho

Entro no samba meu corpo ta duro

Bem que procuro a cadencia e não acho

Meu samba meu verso não fazem sucesso

Há sempre um porém vou a gafieira

Fico a noite inteira no fim nao dou sorte com ninguém

Mas eu vou num canto vou num pai de santo

Pedir qualquer dia

Que me de uns passes uns banhos de ervas

E uma guia

Está aqui o endereço

Um senhor que eu conheço me deu ha tres dias

O mais velho é batata diz tudo na exata

É uma casa em Caxias

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu continuo

De tanto ferirem meus olhos
E desfazerem de meus sonhos
Hoje decidi que amarei ainda mais
Minha vida é assim
Feita de pequenas vitórias
Dona de felicidades efêmeras
E a espera das duradouras
Eu tenho todas as possibilidades do mundo
É assim que eu continuo
Todos os dias rezando por você

domingo, 31 de maio de 2009

Voltando aos absurdos

Mulher: E então doutor, o senhor acha que isso pode ser normal?
Paciente: Eu não entendo toda essa situação, porque simplesmente não me deixam ir pra casa colocar o meu pijama?
Mulher: Papai, o senhor está completamente fora de si.
Paciente: Meu bem, eu realmente não sei quem você é, mas se me deixar sair desta sala eu posso considerar a hipótese de registrá-la.
Médico: Calma, minha senhora, vamos nos acalmar por um momento.
Paciente: Isto está me cheirando a antissemitismo.
Mulher: Pelo amor de Deus, papai, o senhor não é judeu, o senhor não é escritor e o senhor não é Woody Allen. Ah, a propósito, o senhor é ajudante de pedreiro e é negro.
Paciente: Deus é um conceito abstrato em muitas culturas, mas ultimamente eu tenho feito coro com os que crêem que ele simplesmente tirou umas férias disso tudo.
Médico: Minha senhora, eu não sou um especialista, mas se não fechar essa matraca não poderei ouvir este homem, nem ajudá-los.
Mulher: Eu me recuso a compor essa hitória de malucos. Que diabos de autor é esse?
Paciente: Parece-me que ele, ou devo dizer ela, está buscando uma espécie de alusão com a obra de Woody Allen e projetando em mim essa fantasia.
Médico: Ouçam, eu sou o médico e essa fala seria muito mais pertinente a mim.
Mulher: Desse jeito não chegaremos a lugar nenhum.
Médico: Qual é afinal o seu problema, meu senhor?
Paciente: Estou muito bem, como personagem fruto de uma blogueira, só que depois de anos trabalhando com minhas habilidade manuais resolvi dar a vazão a certos acontecimentos que sempre me acompanharam... entenda, eu incorporo Woody Allen.
Médico: Mas Woody Allen está vivo, você não pode incorporar alguém que está vivo.
Paciente: Isto é uma licença poética, além do mais isso só acontece em dias ímpares.
Médico: Mas é hoje é um dia par.
Paciente: Sim, mas obviamente eu não me ligo muito em calendários, datas, acho que são apenas convenções.
Mulher: O senhor entende com o que eu tenho que lidar?
Médico: Bom, parece que o grau de alucianação do seu pai é sem proporções... talvez para demovê-lo da idéia de que é Woody seja necessário confrotá-lo com o verdadeiro.
Paciente: Vocês terão que ver isso com o meu agente. Mas acho desnecessário toda essa mobilização para resolver um problema que foi criado por uma escritora amadora.
Mulher: Bom, nesse ponto papai está certo... e são quase 12horas.
Médico: Eu não posso perder minha hora de almoço, tenho certeza que quando fizer isso darei início a uma úlcera.
Paciente: Porque não vamos todos embora desta página? Há uma excelente padaria lá no centro. Mulher: Por mim tudo bem.
Médico: Ótimo, deixem só eu pegar minha maleta.

Tentando fugir da prosa

Desdisse
Meu bem, eu realmente não ando muito bem
Você me disse: acabou
Eu quis morrer e te matar
Com todos os teus vícios e caprichos
Eu quis você de volta
Porque quando você diz adeus eu só consigo entender até logo
Você me machuca e eu digo que é por amor
Então, hoje eu te odeio um pouco menos
Meu bem, não volte pra aqui ou eu vou te amar pra sempre
Isso não deve ser muito saudável mas o problema é meu
Você bem longe e eu em outro lugar
É assim que funciona
Meu bem, eu realmente não vou muito bem
É melhor você me amar ou vai se ver com você

quinta-feira, 26 de março de 2009

De volta

Victor, meu amado felino comunista.


Hoje virei estatística. Oficialmente, claro. Provavelmente eu já estava entre aqueles 10% há muito tempo, não que se eu tivesse ficado sabendo antes mudaria a condição das coisas. Existe uma clara diferença entre não querer e não poder. No momento eu não quero, mas talvez eu nunca possa e é isso que assusta. O problema da coisa, não é ela em si, mas tudo que se diz e os efeitos que ela causa em segundos e terceiros. E porque até não estender isso aos crimes de pensamento?
Não estou doente, só divagando. Talvez divagar demais até seja uma doença. Hump... Imagino a cena:
- Bom dia!
- Bom dia, doutor!
- Então, a senhora me procurou porque está sofrendo de divagações crônicas.
- Sim, compreenda, a vida real é um saco e sou um tanto descontrolada emocionalmente... o senhor poderia me receitar algumas pílulas de realidade conformista?
- Veja bem, a senhora não sofre propriamente de esquizofrenia, talvez só precisasse se ocupar... conversar um pouco, vou encaminhá-la para um filósofo amigo meu que tem ministrado umas terapias de auto-conhecimento interior e outras baboseiras mais.
É isso. De volta à velha mesa de trabalhos.