quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Porque já passou o Natal

Como manda a tradição anual julianesca, peguei uma faringite bem agressiva, porque as festas de fim de ano não são a mesma coisa sem uma boa visita ao otorrinolaringologista, por isso, a demora em postar.

Sabem, eu não acredito em anjos. Não acredito mágica e em sentimentos puros demais. Eu acredito na humanidade dessa espécie fascinante que somos. Eu acredito nos amigos verdadeiros, na fidelidade de um bom vira-latas e acredito numa força incrível que todos nós temos.

Quando sinto um vento forte eu abro os braços e gosto de tê-lo passando entre meus dedos e membros numa sensação de abraço infinito. Eu não entendo algumas coisas, nem o motivo da intensidade com que as sinto, mas algumas vezes me rendem bons versos e lembranças incríveis.

Essa melancolia de fim de ano, que vem junto com as luzes das decorações natalinas me inspirou a fazer minha lista de intenções que compartilho aqui. É, acaba que tem um quê de propaganda de fim de ano de companhia de celular ou banco privado, mas é meio inevitável esse sentimento de "vamos começar de novo", "tudo vai dar certo."

1- Em 2011, prometo correr descalça e com os braços abertos na área verde de perto de casa.

2- Prometo sorrir mais, com ou sem motivo.

3- Prometo levar meu pai para assistir um show do Chico Buarque.

4- Prometo desconfiar menos das pessoas, mesmo que uma hora ou outra eu quebre a cara. O prazer de acreditar gratuitamente vale o risco.

5- Prometo ler mais quadrinhos.

Desejo que todos os sonhos de vocês se realizem.


Caríssimos, tenham um feliz 2011.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Alguém conhece uma declaração melhor?

Depois de bons incentivos criei vergonha e regularizo minhas postagens. Agora as atualizações virão sempre as terças-feiras, terceiro dia da semana que, aliás, é o meu número favorito. Ah, também coloco um vídeo lindinho de uma das mais linda declarações de amor que conheço.

Chega de saudade


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Você

Prometo que ainda vem um texto fofinho ou engraçado antes do fim do ano. ;P

Você

De que material é feito?

Qual é o sangue que corre nas veias e qual é a carne que veste os ossos?


Você


É ser ou é humano?


Nestes tempos urgentes, só amo saudades do inventado.


O que te emociona?


Que tipo de tesouros guarda dos que lhe são caros?


Você


Chora? Corta?


Eu quero um mundo de plástico bolha, descartável e macio.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Número 2

Eram de um verde água, tinha certeza. Talvez por isso o olhar sonolento conservasse sempre aquele aspecto úmido, que contraditoriamente não era marejado, nem despendia lágrimas, simplesmente parecia molhado e com profundidade.

- Essa é a coisa mais ridícula que você já inventou. Ora vejam, se apaixonar por alguém porque parece bom. Não lê jornais? Vai acabar picotada em quatro sacos pretos de lixo.

A sinceridade de Adelaide era sua âncora com o mundo real; só ela era capaz de lhe mostrar a impossibilidade da maioria dos seus planos. A voz estridente funcionava como um sino, uma sirene que a acordava todos os dias nos intervalos do expediente do mercado, mas, dessa vez, nem seus achaques a traziam de volta. “- Sim, parecem bons”, repetia a si mesma.

- Meu bem, você precisa aprender comigo. Como acha que me casei com Edgar? Você acha que se eu estivesse olhando para olhos, ao invés do bolso e de uma boa pegada, eu teria marido, filhos? Você é boba e um dia desses vai perceber todas as grandes oportunidades que desperdiçou.

- Preciso voltar. Acabou o intervalo.

Atrás do balcão de pacotes, era parcialmente feliz. Desde que se entendia por gente, gostava de olhar os embrulhos nas mãos de estranhos e imaginar o conteúdo e seu destino. Como empacotadora, ela tinha parte de sua fantasia revelada, mas também não desejaria perder todo o encanto daquele vício, que apenas se refinou, pois agora, sabendo o conteúdo, divertia-se imaginando o destino, o consumidor final. Ficava atenta à conversa dos clientes à procura de pistas e, normalmente, era gratamente recompensada.

Como toda quarta-feira, quase no fim do expediente, ele aparecia. No carrinho, a caixa de cerveja, os pacotes de papel A4, o recipiente de álcool em gel. Poderia ser um gênio incompreendido ou só um alcoólatra que faz muitas cópias, mas, como nunca dizia nada, ela não sabia o destino das compras.

A primeira vez que o viu teve medo. Era muito alto, corpulento e parecia incrivelmente pesado. Tentou fazer uma brincadeira e segurar em sua mão, o que lhe provocou pavor. Mas, ao fim do primeiro mês do repetido ritual, com exceção do toque de mãos, ela descobriu, no grandalhão, incrível docilidade nos olhos que contrastavam com toda a figura que ele apresentava.

Mais do que docilidade, via tristeza e se sentiu solidária à dor que imaginava que ele carregava. Esperava ansiosa toda semana pela compra do estranho, sob os olhares de reprovação de Adelaide, que tinha certeza que Tereza estava cada vez mais doida. “Num saco de lixo, isso sim. Ela que não se esperte. Eu conheço os homens”, repetia para as colegas do caixa.

Certa vez, ele perguntou se gostava do emprego e ela orgulhosamente explicou seu fascínio por pacotes, o que não o entusiasmou.

Na última quarta-feira do mês, ele não veio. Tereza se manteve esperançosa até às 20 horas, quando a mercearia fechou. Na semana seguinte, início de agosto, ele também não apareceu e a aflição começou a apoderar-se da mulherzinha. Adelaide tentou consolá-la, avisando do problema que ela tinha se livrado, que uma das meninas do caixa já o tinha visto com uma pretinha ordinária e que ela não devia se importar com aquilo, que era mulher bonita, tinha porte para casar até com um gringo se quisesse - e voltava a repetir a história do japonês que não deixava de assediá-la.

Adelaide via o sofrimento de Tereza com despeito e considerava ofensivo um sentimento tão grande por um desconhecido. Numa quinta-feira de setembro, sem suportar a ausência dos amados olhos e desesperançada, Tereza deixou o emprego e voltou para o interior, onde poderia ajudar a cuidar dos filhos da irmã.

Temporariamente, Adelaide assumiu o setor de pacotes e, vez ou outra, se pegava com “maldita mania” de imaginar para onde eles iam. Suspirava lembrando dos olhos e se ressentia por não ter tido as mãos tocadas pelo desconhecido e por não ter parentes no interior para onde se refugiar.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Texto I

Seja meu chão, meu não, meu freio

O barulho dos pratos em casa e o esteio

Que importa se eu não tenho controle absoluto da minha mordida?

Você também não consegue mudar as coisas que quer em você

Você diz: Instável

Eu penso: Inseguro

Talvez as coisas possam dar certo

terça-feira, 29 de junho de 2010

Dois Perdidos

Enquanto a viagem real não acontece, viajo com Arnaldo Antunes. Logo mais terei texto na Gotaz. Por hora a trilha sonora é Iê Iê Iê.


Quando eu quis você
Você não me quis
Quando eu fui feliz
Você foi ruim
Quando foi afim
Não soube se dar
Eu estava lá mas você não viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo em mim
Quando eu quis você
Você desprezou
Quando se acabou
Quis voltar atrás
Quando eu fui falar
Minha voz falhou
Tudo se apagou você não me viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo em mim
Mas se eu já me perdi
Como vou me perder
Se eu já me perdi
Quando perdi você
Mas se eu já te perdi
Como vou me perder
Se eu já me perdi
Quando perdi você

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Explicações

Mesmo depois que o objeto é apartado de nós, quando fechamos os olhos nós continuamos a reter sua imagem, embora menos nítida do que quando a enxergávamos. (T. Hobbes)

Saudades?

Muitas

Tantas que nem cabem no peito

Correm doidas para as mãos trêmulas

Chegam aos olhos inchados

Se alojam nas pernas inquietas

Vão para a boca contorcida

Enormes

Em um momento se declaram donas do corpo

Querem todo espaço, todo resquício de memória

Para no outro instante se aquietarem

Ficarem pequeninas

Fracas

Se retraem para deixar o corpo descansar

Mentirosas dizem não se importar

Fingem que vão embora


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Azuis

O sinal vermelho sobre a pálpebra esquerda. Lembranças de um cotidiano já remoto cuja memória insiste em fazer presente.

O reflexo do tronco nu no espelho, os olhos embaçados por trás das lentes e o meio sorriso bobo.

Alimento-me da saudade desses instantes em rações diárias.

Não é saudável, mas o que de fato é?

Não era pra ser real. Tinha que ser finito.

Todo fim de conto é previsível

Pra que me serve um negócio que não cessa de bater?

- Meu filho, na nossa família só há dois jeitos de morrer: do coração ou loucos.

A primeira vez que sentiu seu coração foi numa viagem de ônibus. O trajeto era curto, mas as obras na pista tornavam o trânsito lento. A pontada inicial, forte no lado esquerdo, foi precisa e rápida, mais parecia uma distensão muscular. Recuperou o fôlego e livrou-se da sensação de desconforto, mas no intervalo de segundos ela voltou, dessa vez, traiçoeira, pelas costas.

A verdade é que sabia muito pouco sobre sua família materna. Conhecia por alto a história de bêbados, viciados e frustrados. Pensar uma linhagem de duas gerações de casamento consangüíneos daquela maneira, mais do que um assustador presságio, era intrigante.

Não pôde deixar de se sentir comovido com as palavras da tia, que não era louca. A história lhe pareceu uma metáfora oportuna para sua própria vida. Identificou-se ao pensar naquelas pessoas com uma debilidade reconhecida de se aterem ao real e tão sensíveis à vida.

Por mais de uma vez tinha pensado na loucura e se imaginava desvairado. No entanto, quando de fato esteve frente a frente com insanidade, não a de seus pensamentos, mas a da amada, aquilo lhe pareceu insuportável. Não havia poesia. Era só a loucura, deixando aqueles olhos azuis cada vez mais vazios e opacos.


A medida que a dor crescia, sentia o inconformismo mais pesado. Sabia que seu músculo era saudável, mas a dor imaginária o seguia. Foi quando decidiu por um fim naquele tormento. Sem mais forças, despediu-se da mulher inconsciente, preparou uma mala de divorciado e retornou à casa da mãe. Pediu apenas para que ninguém voltasse a comentar nada da esposa e nem das lembranças de família.

Por dentro ria-se, com satisfação, sabendo que agora não morreria louco. Já não sofria de saudades, tinha retirado o coração numa cirurgia secreta, que fora realizada por seus médicos imaginários no caminho de volta para a casa familiar.

Estava satisfeito, viveria muito e agora sabia que também nunca mais sofreria por amor.


Meu texto na Revista Sopro

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mudança

Alguma vezes, em certos momentos da vida...
Espera! Para tudo. Não vou usar esse tom de editorial de dezembro de revista mensal. Ah, não mesmo.

Queridos, o fato é que estou abandonando este blog. É uma decisão temporária. O aviso é para o caso de algum desavisado cair por aqui. Prometo que assim que possível buscarei um nome bem estrambólico e resgatarei todos os textos daqui e postarei com as devidas revisões.

Ando sentindo tantas saudades de casa. Tertuliana precisa de uma casa nova, de novos ares e... tá, tá bom, um layout minimamente decente.

Bons pensamentos para boas pessoas.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sexta-feira da paixão

Não, não é a de Cristo.

Acontece que, algumas vezes, simplesmente preciso escutar Cazuza pra me sentir compreendida. Até acho que essa composição é do Herbert, mas gosto de ouvir na voz do Cazuza.

Bom fim de semana pra todos.


Eu queria ver no escuro do mundo
Aonde está o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores e as coisas pra te prender
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
As vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pelos, teu gosto, teu rosto, tudo
Tudo que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas pra te prender
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Clichê

Um emprego?

Sabe que pensando bem acho mesmo que preciso de um.

É... um emprego.

Para pagar as contas, para não morrer de fome, para ir ao cinema, para comprar a pipoca do cinema, para socorrer alguém da família ou, sei lá, um amigo. Mas, sobretudo, para não morrerem os sonhos.

É... realmente preciso de um emprego. Para ser poeta, escritora, atriz, bailarina, trapezista, professora, para ser o que eu quiser, nos meus contos e nos livros que eu ainda não li e que, certamente, me identificarei com o protagonista masculino sonhador e cheio de limitações reais e que se sente perdido a espera de uma linda garota para salvá-lo.

Eu também espero a minha garota. Uma pessoa doce que vai gostar da minha companhia e tornar minhas noites de sono mais tranquilas.

Bom, mas já são quase 20h e ela ainda não veio. Pode ter perdido o ônibus.
(...)

É, é sim. Vai ver que perdeu o ônibus. Nunca gostei do transporte público.

Comédia Romântica 2

Minha vida segue um ciclo ridiculamente previsível. Verdade! Não é frase de efeito.

Por exemplo, as grandes mudanças na minha ínfima existência sempre acontecem a partir de setembro, o mês que eu nasci e, quase sempre, todas as mudanças são boas, mesmo quando difíceis e provocam dor. O fato é que sempre sei que são necessárias.

Não acredito muito em inferno astral, mas num momento de grande bonança espiritual que, para mim, é a partir de setembro. As paixões, os novos empregos, as decisões de mudança, o jogar tudo para o alto, os amores platônicos... Sim, tudo a partir de setembro. E por falar em amores platônicos...

Ah, são ele que me permitem reviver, todos os anos, as mais juvenis e tolas sensações. É quase um tônico, um elixir da juventude, não que eu ande me apaixonando por garotinhos, a juventude está nas sensações, tão somente. Enfim, tudo muito previsível.