quarta-feira, 8 de julho de 2009

É.... a vida bate

Blackout. Ouço as respirações pesadas atrás das cortinas. Logo o palco estará iluminado, logo será minha vez, e meus joelhos ainda não pararam de se encontrar freneticamente. "Droga, o que eu tô fazendo aqui?" Pera, eu sei. Eu procurei isso. Precisava aprender a lidar com minha timidez. "Um dia desses terei que resolver", sempre justificava aos conhecidos e a mim mesmo, por isso havia procurado a Companhia, por isso estava prestes a participar de minha primeira montagem, isso é se eu não tivesse um chilique antes.Lembro de entrar pela primeira vez no pequeno teatro, ver só o palco iluminado e os alunos sentados em um semicírculo. "Grande, uma turma de adolescentes, não posso ficar aqui", pensei. O professor tinha olhos imensos, achei bonitos, mas muito inquisidores, ele convidou: "Venha para o palco". Depois, foi aquele papo mais ou menos previsível, apresentações, objetivos que nos trouxeram ali. No final da aula eu não tinha conseguido decorar nenhum nome, na minha avaliação preconceituosa, que só queria uma desculpa para me arrancar o mais rápido possível dali, só haviam meninas, todas muito jovens, com umas duas ou três exceções e um homem alto, como um dos meus irmãos, mas que depois de observar melhor percebi que no máximo seria um pouco mais que um adolescente.Alguém me perguntou muito gentilmente se eu havia gostado, fui sincera e disse que idade da turma me intimidava, a pessoa sorriu e disse: "Não, por favor, fica". Não lembro quem disse, mas sempre tive dificuldades para dizer não, então mesmo sem saber porque assenti. No sábado seguinte lá estava eu, os ombros arqueados, o rosto e o colo em brasas de tanta vergonha, mas consegui ficar até o fim. "Vitória", pensei ao fim da aula. Seria esse o sentimento de todos os sábados, cada aula encerrada era um gigante noucauteado, derrubaria meus gigantes um a um.Droga, quando foi que essa sensação de necessidade de superar a timidez virou uma necessidade de fazer parte daquilo? Certo, eu me apego fácil, sabia que gostaria daquelas pessoas, mas era além disso... todos os exercícios, as leituras, as conversas vazias, as pequenas frases cautelosamente estudadas antes de serem pronunciadas para tentar quebrar o gelo.... tudo estava ligado com minhas idéias sobre vida, felicidade, leituras, sonhos e além... não importava o quanto eu estivesse feliz, todo tempo eu sempre sentia que faltava algo, eu nunca soube o que era, até na faculdade considerei que fosse aquele tal vazio "pós-moderno", mas agora, prestes a entrar no palco, tudo estava completo, tudo estava incrivelmente em ordem e era perfeito.Foi assim que vivi minha experiência particular de "sabedoria em comum". A primeira apresentação foi sofrível. A segunda foi muito boa. A terceira e quarta deliciosas. Eu consegui fazer o público rir. Eu, a pessoa que pede desculpas quando esbarra em seres inanimados e morre de medo de falar demais e ser inconveniente. Puta que pariu, tô fudida, estou apaixonada pelo teatro, o que fazer com isso? Não tenho a mínima ideia. Arf!

4 comentários:

Ser Cadi disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAhhhhhhhh, serio????

Queria te ver, queria muito te ver. Quanto orgulho!!!!

O gigante se foi; agora, só o prazer.

Parabééééns, Bebaaa!!! Saudade!!!

Beijos, Isaac

Lucas Damasceno disse...

Pô, demais! Um dia também encaro uma odisséia dessas. bj

Lidiane Campos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lidiane Campos disse...

Jurubeba, fazia tempo que não vinha aqui, mas tinha certeza que iria encontrar um texto delicioso de se ler até o final, até as últimas letras. Gostei do início ao fim e torço pra que continues a alimentar coisas assim, que te fazem bem e te deixam felizes à beça.